O que é a Acondroplasia?
A acondroplasia é uma displasia óssea (diplasia - crescimento ou desenvolvimento anormal), e, tal como as outras displasias ósseas, é uma doença rara óssea.
Para começar, o termo doença rara refere-se a uma doença, síndrome ou desordem que é muito incomum, afetando menos de 1 pessoa em cada 2000 pessoas, de acordo com a definição europeia de doença rara [1, 2]. No entanto, na definição americana, este conceito é um pouco mais restrito: nos Estados Unidos, uma doença é considerada rara se afetar menos de 200 000 pessoas em qualquer momento [3]. Usando a estimativa de população total dos EUA atual, que serão cerca de 325 milhões de pessoas, de acordo com o último Censos, podemos concluir que é considerada uma doença rara qualquer doença que afete menos de 1 em cada 1600 pessoas (mas como depende da prevalência da doença, este rácio mudará com alterações na população total) [4].
Na Europa, uma doença rara pode afetar desde apenas algumas pessoas até cerca de 250 000, dependendo da raridade da doença. Só na Europa
há mais de 30 milhões de pessoas afetadas pelas cerca de 6 800 doenças raras identificadas [2].
80% das doenças raras foram identificadas como tendo origem genética, enquanto que as outras resultam de infeções (virais ou bacterianas), alergias e causas ambientais ou têm origem em causas degenerativas ou proliferativas [5].
50-75% das doenças raras têm inicio na infância [2].
50-75% das doenças raras têm inicio na infância [2].
A acondroplasia é a forma de condrodisplasia mais frequente e é causada por mutações no gene que codifica o recetor dos fatores de crescimento dos fibroblastos 3 (FGFR3, do inglês Fibroblast Growth Factor Receptor 3), um recetor transmembranar importante para o crescimento linear dos óssos, entre as suas outras funções [6, 7]. O diagnóstico baseia-se na presença de características clínicas e radiológicas e, por isso, o diagnóstico pré-natal pode ocorrer durante a ecografia pré-natal de rotina do 3º trimestre e pode ser confirmada por amniocentese procurando pela mutação mais comum do FGFR3 [8, 9]. Sem os testes genéticos, pode haver um diagnóstico errado, que pode resultar no aconselhamento errado dos pais [10]. O diagnóstico genético pré-implantação é possível em laboratórios especializados.
Mutação: alteração permanente do DNA, num local específico de um gene (ou mais de um gene). Pode não ter qualquer efeito, alterar o produto do gene, ou impedir parcial ou completamente o seu funcionamento. |
Embora esta doença seja autossómica dominante, o que quer dizer que se apenas um dos pais tiver acondroplasia a probabilidade de a passar à descendência é 50%, 80% dos casos são mutações de novo (novas) em crianças com pais de estatura média. Os portadores da doença só podem ser heterozigóticos, visto que a acondroplasia homozigótica é letal e, por isso, o aconselhamento genético é recomendado.
Estima-se que a incidência da acondroplasia seja cerca de 1/25 000 nados vivos em todo o mundo e algumas das características clínicas distintas, representadas em seguida, são visíveis à nascença [9]:
Rizomelia - desproporção do comprimento da parte proximal dos membros.
Terminologia utilizada para descrever todas as partes do corpo de forma inequívoca. |
Lordose lombar acentuada - Curvatura excessiva da zona lombar das costas.
Imagem de: knowhowmd.com |
Braquidactilia - Dedos curtos relativamente ao comprimento dos outros ossos longos e partes do corpo. As mãos também são largas, curtas e em forma de tridente.
Imagem de: Rixir.co.pk |
Macrocefalía e testa protuberante - Cabeça anormalmente grande e testa proeminente.
Imagem de: Gamuts.isradiology.org |
Hipoplasia do terço médio da face - As imagens abaixo mostram uma face de perfil normal às 28 semanas e uma de perfil com hipoplasia do terço médio da face e testa protuberante de um feto com acondroplasia às 30 semanas. Juntamente com a hipertrofia das adenóides e amígdalas, pode levar ao desenvolvimento de apneia de sono obstrutiva [11]. O tratamento da apneia de sono obstrutiva pode incluir adenotonsilectomia, perda de peso e/ou a utilização de um aparelho de pressão positiva das vias aéreas (CPAP, do inglês Continuous Positive Airway Pressure).
Pensa-se que as hipoplasia do terço médio da face pode ser a causa dos atrasos no desenvolvimento da fala observado em 20% das crianças com acondroplasia [12]. Pode ser recomendada terapia da fala, se este atraso se tornar preocupante.
Cifose Toracolombar - É muito comum em crianças com acondroplasia e normalmente nota-se durante a infância. Deve-se a fatores mecânicos, especificamente a hipotonia muscular generalizada que, juntamente com os membros curtos, pescoço curto e cabeça grande, causam atrasos no desenvolvimento das capacidades motoras grosseiras (movimentos mais amplos).
Genu Varus - É uma deformidade física marcada pela curvatura para fora da parte inferior das pernas, em relação às coxas. Ocorre com frequência na infância e pode ser corrigida pelo re-alinhamento cirúrgico da curvatura.
Há muitas outras complicações que surgem desde a infância até à idade adulta, de tal forma que a gestão da acondroplasia deve ser multidisciplinar e os cuidados precoces são essenciais:
A maioria das articulações são hiperextensíveis.
As otites médias são um problema comum, e a otite média crónica está presente em 25% das crianças com acondroplasia. São causadas pelas proporções pequenas do crânio (Tubos de Eustáquio curtos, mesmo atrás do tímpano, faringe pequena e adenoide e amígdalas grandes). Podem levar a problemas auditivos, nomeadamente a perda de audição condutiva (problemas no ouvido médio ou no tímpano), que está presente em cerca de 40% dos adultos com acondroplasia. O tratamento das infeções de ouvidos e da otite média grave, assim como a avaliação dos problemas auditivos são essenciais [9].
O apinhamento dentário é comum e pode requerer que sejam removidos alguns dentes para alinhar os dentes [4].
A compressão da medula espinal ao nível do foramen magnum (na imagem abaixo) pode ocorrer durante a primeira infância, causando apneia de sono central, atrasos no desenvolvimento e sintomas neurológicos (espasmos musculares e contrações musculares involuntárias, por exemplo). Este problema tem tendência a resolver-se com o crescimento, visto que o tamanho do foramen magnum tende a aumentar em relação ao tamanho da medula espinal. Mesmo assim, a descompressão cirúrgica pode ser necessária na primeira infância. As atividades que podem aumentar o risco de danificar a junção craniocervical devem ser evitadas.
Enquanto que a compressão da medula espinal ao nível do foramen magnum se resolva com a idade, a estenose espinal e as deficiências que a acompanham (como a claudicação neurológica) são mais frequentes na vida adulta, especialmente nos indivíduos que apresentem uma cifose persistente. Isto deve-se a uma redução relativa do tamanho do canal da espinha, comparado com o tamanho da medula espinal e agrava-se com a obseidade, que também é um problema comum e leva a complicações cardiovasculares [6, 13]. Uma laminectomia lombar pode ser necessária para tratar a estenose espinal e o peso deve ser controlado para evitar este tipo de complicações [9].
Também há um pequeno risco da ocorrência de hidrocéfalo, com o aumento da pressão venosa intracraniana.
Para além da rizomelia, os raios X do esqueleto mostram irregularidades das metáfises generalisadas, estreitamento da distância interpedicular das vértebras lombares inferiores e uma pélvis anormal com asas ilíacas quadradas e um canal sacrociático estreito. As mulheres com acondroplasia têm de dar à luz, tipicamente, por cesariana, devido ao tamanho reduzido da sua pélvis.
Os homens adultos chegam a uma altura de 131±5.6 cm e as mulheres a 124±5.9 cm, em média. Apesar das complicações listadas acima (que podem ser consultadas com mais detalhe aqui), há uma redução apenas ligeira na esperança média de vida, em comparação com a população geral, potencialmente devido a doenças cardiovasculares [9].
Apneia de sono obstrutiva: Redução considerável ou completa e repetitiva do fluxo de ar, durante o sono devido a uma obstrução. Neste caso, as próprias vias aéreas, o adenóide e as amígdalas causam a obstrução. |
Pensa-se que as hipoplasia do terço médio da face pode ser a causa dos atrasos no desenvolvimento da fala observado em 20% das crianças com acondroplasia [12]. Pode ser recomendada terapia da fala, se este atraso se tornar preocupante.
Imagem de: (Ramos et al., 2008). |
Cifose Toracolombar - É muito comum em crianças com acondroplasia e normalmente nota-se durante a infância. Deve-se a fatores mecânicos, especificamente a hipotonia muscular generalizada que, juntamente com os membros curtos, pescoço curto e cabeça grande, causam atrasos no desenvolvimento das capacidades motoras grosseiras (movimentos mais amplos).
Foto original. |
Genu Varus - É uma deformidade física marcada pela curvatura para fora da parte inferior das pernas, em relação às coxas. Ocorre com frequência na infância e pode ser corrigida pelo re-alinhamento cirúrgico da curvatura.
Imagem de:Studyblue.com. |
Há muitas outras complicações que surgem desde a infância até à idade adulta, de tal forma que a gestão da acondroplasia deve ser multidisciplinar e os cuidados precoces são essenciais:
A maioria das articulações são hiperextensíveis.
As otites médias são um problema comum, e a otite média crónica está presente em 25% das crianças com acondroplasia. São causadas pelas proporções pequenas do crânio (Tubos de Eustáquio curtos, mesmo atrás do tímpano, faringe pequena e adenoide e amígdalas grandes). Podem levar a problemas auditivos, nomeadamente a perda de audição condutiva (problemas no ouvido médio ou no tímpano), que está presente em cerca de 40% dos adultos com acondroplasia. O tratamento das infeções de ouvidos e da otite média grave, assim como a avaliação dos problemas auditivos são essenciais [9].
O apinhamento dentário é comum e pode requerer que sejam removidos alguns dentes para alinhar os dentes [4].
A compressão da medula espinal ao nível do foramen magnum (na imagem abaixo) pode ocorrer durante a primeira infância, causando apneia de sono central, atrasos no desenvolvimento e sintomas neurológicos (espasmos musculares e contrações musculares involuntárias, por exemplo). Este problema tem tendência a resolver-se com o crescimento, visto que o tamanho do foramen magnum tende a aumentar em relação ao tamanho da medula espinal. Mesmo assim, a descompressão cirúrgica pode ser necessária na primeira infância. As atividades que podem aumentar o risco de danificar a junção craniocervical devem ser evitadas.
Enquanto que a compressão da medula espinal ao nível do foramen magnum se resolva com a idade, a estenose espinal e as deficiências que a acompanham (como a claudicação neurológica) são mais frequentes na vida adulta, especialmente nos indivíduos que apresentem uma cifose persistente. Isto deve-se a uma redução relativa do tamanho do canal da espinha, comparado com o tamanho da medula espinal e agrava-se com a obseidade, que também é um problema comum e leva a complicações cardiovasculares [6, 13]. Uma laminectomia lombar pode ser necessária para tratar a estenose espinal e o peso deve ser controlado para evitar este tipo de complicações [9].
Também há um pequeno risco da ocorrência de hidrocéfalo, com o aumento da pressão venosa intracraniana.
Foramen Magnum - onde a medula espinal se liga ao cérebro. |
Para além da rizomelia, os raios X do esqueleto mostram irregularidades das metáfises generalisadas, estreitamento da distância interpedicular das vértebras lombares inferiores e uma pélvis anormal com asas ilíacas quadradas e um canal sacrociático estreito. As mulheres com acondroplasia têm de dar à luz, tipicamente, por cesariana, devido ao tamanho reduzido da sua pélvis.
Os homens adultos chegam a uma altura de 131±5.6 cm e as mulheres a 124±5.9 cm, em média. Apesar das complicações listadas acima (que podem ser consultadas com mais detalhe aqui), há uma redução apenas ligeira na esperança média de vida, em comparação com a população geral, potencialmente devido a doenças cardiovasculares [9].
Fontes
- European Medicines Agency. Orphan designation. [cited 2017 10/05]; Available from: http://www.ema.europa.eu/ema/index.jsp?curl=pages/regulation/general/general_content_000029.jsp&mid=WC0b01ac05800240ce.
- Bavisetty, S., W.W. Grody, and S. Yazdani, Emergence of pediatric rare diseases: Review of present policies and opportunities for improvement. Rare Diseases, 2013. 1: p. e23579. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3932940/.
- Eurordis. Rare Diseases : Understanding this Public Health Priority. 2005 [cited 2017 10/05]; Available from: http://www.eurordis.org/IMG/pdf/princeps_document-EN.pdf.
- U.S. Department of Commerce. U.S. and World Population Clock. United States Census Bureau 2017; Available from: https://www.census.gov/popclock/.
- Eurordis. Rare Diseases : Understanding this Public Health Priority. 2005 [cited 2017 10/05]; Available from: http://www.eurordis.org/IMG/pdf/princeps_document-EN.pdf.
- Horton, W.A., J.G. Hall, and J.T. Hecht, Achondroplasia. The Lancet, 2007. 370(9582): p. 162-172. Available from: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(07)61090-3/fulltext(07)61090-3/fulltext.
- Rousseau, F., et al., Mutations in the gene encoding fibroblast growth factor receptor-3 in achondroplasia. Nature, 1994. 371(6494): p. 252-4. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8078586.
- Proud, V.K. and E.R. Elias, Chapter 26 - GENETIC SYNDROMES AND DYSMORPHOLOGY, in Developmental-Behavioral Pediatrics (Fourth Edition). 2009, W.B. Saunders: Philadelphia. p. 246-257. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B9781416033707000262.
- Bober, M. and A. Duker. Achondroplasia. 2013 [cited 2017 10/05]; Available from: http://www.orpha.net/consor/cgi-bin/Disease_Search.php?lng=EN&data_id=148&Disease_Disease_Search_diseaseGroup=achondroplasia&Disease_Disease_Search_diseaseType=Pat&Disease(s)/group%20of%20diseases=Achondroplasia&title=Achondroplasia&search=Disease_Search_Simple.
- Trotter, T.L. and J.G. Hall, Health Supervision for Children With Achondroplasia. Pediatrics, 2005. 116(3): p. 771-783. Available from: http://pediatrics.aappublications.org/content/pediatrics/116/3/771.full.pdf.
- American Academy of Sleep Medicine, International classification of sleep disorders, revised: Diagnostic and coding manual. 2001: American Academy of Sleep Medicine. Available from: http://www.esst.org/adds/ICSD.pdf.
- Hunter, A.G., et al., Medical complications of achondroplasia: a multicentre patient review. Journal of Medical Genetics, 1998. 35(9): p. 705-712. Available from: http://jmg.bmj.com/content/jmedgenet/35/9/705.full.pdf.
- Pauli, R.M. and C.A.F.D.J. Wilkin, Achondroplasia. 1998 [Updated in 2012], University of Washington, Seattle (WA): GeneReviews. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1152/.